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Rodrigo Hübner Mendes

Endowments: uma ferramenta de fortalecimento do setor social brasileiro

ECOA

12/11/2019 04h00

Lembro-me de um filme da década de 1990 (O Feitiço do Tempo) em que um meteorologista interpretado por Bill Murray viaja para uma cidade do interior para fazer a cobertura de um evento tradicional chamado "dia da marmota". Na manhã seguinte ao evento, o personagem acorda e percebe que voltou ao dia anterior. Inicia-se, então, um ciclo de repetições sem fim em que, toda manhã, ele é despertado pelo rádio relógio do quarto do hotel, no mesmo horário e com a mesma música. A sensação é de que, não importa seu esforço, ele sempre volta à estaca zero.

A narrativa nos ajuda a entender a finalidade dos Fundos Endowment. Chamados também de Fundos Patrimoniais, os Endowments são uma ferramenta financeira voltada à sustentabilidade de uma organização no longo prazo. Traduzindo em miúdos, é um recurso financeiro investido no mercado a partir de uma política de preservação do capital. Somente o rendimento real do fundo, quer dizer o ganho menos a inflação, pode ser destinado às operações da entidade.

É como se, ao invés de precisar ir à feira toda semana para comprar as frutas que alimentam seus projetos, a organização criasse um pomar no seu quintal. Com isso, ela garante que sua fruteira vai estar sempre abastecida, deixando de depender exclusivamente da feira, que um dia pode decidir se mudar para outra freguesia e desaparecer do bairro. Ou seja, a organização passa a contar com um fluxo anual de recursos perene e torna-se menos vulnerável à volatilidade dos aportes de seus doadores que, em geral, flutuam, são incertos. Quebra-se o "feitiço do tempo" e a organização deixa de acordar todo início de ano na mesma situação.

No exterior, esse instrumento é vastamente utilizado por renomadas instituições de ensino, como as universidades de Harvard, Stanford e Yale. O tema tem ganhado crescente visibilidade no Brasil devido a uma lei federal, promulgada em janeiro desse ano, que regula os Fundos Patrimoniais.

Diante dos enormes desafios sociais que temos pela frente, os Endowments devem ser vistos como uma solução estratégica para o financiamento e a perenidade das organizações que atuam no terceiro setor brasileiro. Uma ferramenta para que prosperem por meio do cultivo de seus próprios pomares.

Sobre o Autor

Rodrigo Hübner Mendes tem dedicado sua vida para garantir que toda pessoa com deficiência tenha acesso à educação de qualidade na escola comum. É mestre em administração pela Fundação Getúlio Vargas (EAESP), membro do Young Global Leaders (Fórum Econômico Mundial) e Empreendedor Social Ashoka. Atualmente, dirige o Instituto Rodrigo Mendes, organização sem fins lucrativos que desenvolve programas de pesquisa e formação continuada sobre educação inclusiva em diversos países.

Sobre o Blog

A garantia do direito à educação para todos é o ponto de partida para reflexões sobre equidade, diversidade humana e construção de uma sociedade inclusiva.