Plasticidade importa tanto quanto resiliência
Há alguns anos, fui convidado para fazer uma palestra em Davos, durante o encontro anual do Fórum Econômico Mundial. O tema do evento era "resiliência na economia global" e me solicitaram que o abordasse sob o ponto de vista de um indivíduo diante de desafios.
Resiliência é um conceito da física que diz que, na natureza, alguns materiais têm a capacidade de retornar ao seu estado original após sofrerem uma deformação ou um impacto. Os americanos gostam de chamar isso de "bouncingback", que é o movimento que uma bola de borracha desempenha quando é arremessada contra uma superfície rígida. A bola se deforma e depois recupera a sua configuração anterior.
Quando subi no palco, o entrevistador perguntou-me: "Rodrigo, sabendo que a história da humanidade é marcada por crises cíclicas, você acha que é possível aplicar o conceito de resiliência para a superação dessas crises?". Eu pessoalmente acredito que, perante uma mudança imposta, indesejada, a tendência humana é querer voltar à situação anterior. Senti isso na pele logo depois do acidente que sofri quando tinha 18 anos. Passei 3 anos fazendo 8 horas por dia de fisioterapia para voltar a ser quem eu era. Ou seja, um jovem fisicamente independente.
Hoje percebo que a resiliência é uma capacidade fundamental para nosso propósito de vida. Quer dizer, seja qual for o impacto, a ruptura que surgir na nossa frente, precisamos ser capazes de preservar, de proteger nosso objetivo maior. Agora, quando pensamos na nossa ação, na nossa vida prática, eu prefiro usar um conceito que é o oposto da resiliência, que é a plasticidade. Plasticidade é a capacidade de um material se moldar, se transformar, se desprender da forma anterior.
Resumindo, propus que as lideranças lá presentes buscassem combinar resiliência do propósito com plasticidade da ação. Que deixassem para trás o "bouncingback" e começassem a pensar em "bouncingforward". Em um mundo cada vez mais caracterizado pela velocidade das mudanças e pela intensidade das incertezas, me parece que ambos os conceitos têm, cada um deles, seu papel para nos ajudar a encarar o complexo contexto em que vivemos e interferir nele. Resilientes no norte que guia nossa trajetória, mas plásticos a ponto de sermos capazes de assumir novas formas ante novos desafios.
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