O padre que devolveu dignidade a centenas de crianças africanas
Numa noite de setembro de 2016, o padre Jorge Mario Crisafulli saiu dirigindo uma van pelas ruas de Freetown, a capital de Serra Leoa, país muito pobre da costa oeste da África. Ao cruzar com um grupo de sete garotas, com idade entre 11 e 14 anos, nitidamente em situação de prostituição, aproximou-se e disse: "A rua não é lugar para vocês. A rua é lugar para violência…". Jorge, um argentino com longa história de trabalho assistencial no continente africano, havia chegado alguns meses antes ao país para trabalhar na ONG católica Dom Bosco Fambul, parte da rede internacional de assistência instituída pelos salesianos em mais de 60 países.
Chocado com a situação de extrema vulnerabilidade das meninas, Jorge disse que gostaria muito de ajudá-las e convidou-as a conhecer a Dom Bosco. No dia seguinte, o padre foi acordado por um telefonema do recepcionista do prédio da ONG, explicando que havia um grupo de garotas a sua procura. Surpreso com a visita, ele então lhes ofereceu alimento e as encaminhou a um hospital para fazer uma avaliação do seu estado de saúde. Todas foram diagnosticadas como portadoras do vírus HIV, ainda sem sintomas de aids.
A partir desse dia, sob a liderança de Crisafulli, os missionários da Dom Bosco iniciaram um trabalho sistemático para tirar meninos e meninas de situação de rua e reintegrá-las a suas famílias. Já foram mais de 580. Nesse processo, as crianças e adolescentes passam um tempo sob abrigo da missão, onde recebem alojamento, alimentação, educação, assistência médica e psicológica. Algum tempo depois, a instituição busca reintegrá-los à família. Em muitos casos, quem as recebe de volta são os avós, uma vez que é comum os pais recusarem ter a filha ou filho de volta, seja pelo histórico de rua, seja pela condição de soropositivo. Hoje, a instituição desenvolve oito programas similares em Serra Leoa.
Tive o privilégio de jantar ao lado de Jorge durante um evento sobre solidariedade em Barcelona, no final do ano passado. Sua simplicidade e simpatia me conquistaram logo de cara. Ao perguntar sobre sua força para seguir dedicando a vida a essa causa, explicou sorrindo que "Viver cercado por tanta dor e injustiça não me deprime, ao contrário, me dá mais força para lutar pela justiça e pela dignidade dessas crianças." Em tempos de desrespeito a princípios básicos de direitos humanos, exemplos como o de Jorge merecem toda visibilidade que podemos oferecer pela luz que trazem. Por renovarem nossas energias e nos estimularem a seguir perseguindo uma sociedade mais justa e igualitária.
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