E o Oscar vai para... inclusão, civilização
"The Neighbor's Window" é um tocante filme norte-americano, vencedor do Oscar de melhor curta-metragem na noite do último dia 9, em Los Angeles. Mas o fato novo trazido por essa premiação é o artista escolhido para ser seu apresentador, aquele que manda o "And the Oscar goes to…". Pela primeira vez na história da principal premiação da indústria do cinema, foi um artista com síndrome de Down quem anunciou o prêmio: o ator Zack Gottsagen.
Gottsagen recentemente estrelou o filme "Peanut Butter Falcon", ao lado do astro que esteve no Oscar junto com ele, Shia LaBeouf. No enredo, faz o papel de um jovem com síndrome de Down que foge de casa para tentar uma carreira de lutador profissional. Durante as filmagens, LaBeouf, que tinha sérios problemas com consumo de álcool, foi preso e passou uma noite na cadeia por conta de uma bebedeira, após a qual desacatou policiais. Quando voltou no dia seguinte ao set, foi Gottsagen quem o acolheu, enquanto os demais, constrangidos, o evitavam. Nas palavras de LaBeouf, foi o acolhimento (somado a uma bronca) do companheiro de cena que o fez parar de beber definitivamente.
No Brasil, o filme "Colegas" (produção de 2013), traz a história de três amigos que decidem sair atrás de seus destinos estrada afora em um velho Karmann-Ghia conversível. Os três personagens principais são vividos por atores com síndrome de Down: Ariel Goldenberg, Rita Pokk e Breno Viola.
Há algo de novo acontecendo. A sociedade, de alguma forma, começa a perceber que incluir as pessoas, sejam quais forem suas diferenças, é algo desejável e possível. Estamos nos civilizando no sentido de que velhas barreiras e preconceitos estão sendo superados, em nome da inclusão. No ano passado, participei de um evento na ONU em que educadores de várias partes do mundo relatavam exemplos de pessoas com deficiência intelectual que tinham estudado na escola comum e conquistado autonomia. Apresentei a história de Samuel Adiron, paulistano que nasceu numa família de classe média e tem o sonho de ser professor. Seus pais, por terem consciência dos direitos do seu filho, fizeram questão de matriculá-lo em uma escola comum do bairro em que moravam. Perceberam que precisavam não só cobrar mudanças, mas também jogar junto e apoiar as mudanças. A diretora da escola assumiu esse desafio: decidiu apostar na capacidade do Samuel e de sua equipe.
Hoje, aos 21 anos, ele estuda pedagogia numa das duas faculdades em que passou no vestibular. E tudo indica que vai realizar seu sonho de dar aula para crianças. Há 15 ou 20 anos, era praticamente impensável encontrar adultos com deficiência intelectual formados no Ensino Superior. Hoje, isso está cada vez mais comum. Ou seja, o acesso à escola comum mudou completamente o horizonte futuro dessas pessoas.
Tais histórias, e tantas outras, mostram que, sempre que conseguimos romper as barreiras do preconceito e do medo do diferente, andamos para a frente em padrão civilizatório. O Oscar deste ano teve um significado que talvez demore um tempo para ser percebido. Parafraseando o astronauta Neil Armstrong, eu diria que a presença de Zack Gottsagen como apresentador no Oscar foi uma pequena fala para o ator, mas um grande passo para a humanidade.
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